Confinamento / Janeiro 2021



Estou deitada sobre a cama. Não sou pessoa de me encostar, dormir uma sesta ou ficar no quarto quando ainda é dia, mas, dias não são dias e hoje quebrei essa postura. 

Deitada sobre a cama, leio um livro embalada pelo pequeno som que chega do vento. Um sussurro fraco num dia de inverno. A janela permanece aberta desde o almoço. Gosto do ar fresco e renovado que invade o quarto. Enquanto escrevo este post, algo raro acontece, perco a linha do texto que me prendia e agarro-me ao som de um avião, que ouço rasgar o céu semi escuro. Um avião que me lembrou que gostaria muito de voltar uma terceira vez a Paris. Mas de imediato este pensamento é irracional, ao ponto de me fazer questionar o direito que teria eu de pensar em viagens (?) ... e esqueço. Não é algo prioritário e não é de todo o que mais desejo - ponto. 


Estar em casa é ficar atenta a estas pequenas coisas, coisas essas que me distraem e me fazem companhia no meu silêncio. Antes mesmo de me estender sobre a cama e começar a ler, acendi uma vela e orei por todos os que precisam de luz, por pessoas amigas, pelos próximos e não próximos. A mesma está sobre o meu lado direito. De vez em quando olho para ela e fixo-a e penso nem mesmo a janela aberta, perturba a sua chama. Intacta, serena, segura sem se desviar do seu propósito ali está ela iluminada. Já o meu lado esquerdo interno, debaixo do peito, inquieta-se e preocupa-se.


Na ausência de tudo, despertam-se os sentidos e ficamos famintos, vulneráveis e atentos ao nada que de repente passa a ser tudo. Valorizamos o que temos e o que não temos e nesta tomada de consciência só temos que agradecer e agradecer. 


A chávena de chá arrefeceu, a noite chegou é hora de fechar a janela e a cortina. Pousar o livro e deixá-lo também ele descansar, dar-lhe uma pausa e congelar o momento onde fiquei. 


Devaneios à parte que as estrelas são reais e é na escuridão que se ilumina caminho.


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